14 de Janeiro de 2009 ![]() Pedaços de papel amassados, tampinhas de garrafas, vidros quebrados, pó, cristais, e outros elementos mais, serão colocados ao acaso sobre pequenos espelhos e seus reflexos formarão figuras de casais. Por que??? É no olhar que cada instante se realiza. Este olhar que tantas vezes vê, mas não consegue abarcar e decodificar um universo que se esparrama continuamente pelas 24h do nosso dia.Será que deixamos de ver com os olhos cerrados ou quando dormimos? O ser humano não é um armário cheio de gavetas que abrimos e fechamos quando queremos ou quando nos impõem, apesar de tentarmos, apesar de tentarem. Nossa pele vê, nossos órgãos e sentidos estão atentos a cada sensibilização, realizando formas, voltando no tempo espaço, relacionando, somando, multiplicando, aprendendo, criando. Os cheiros e ruídos trazem do mundo exterior, notícias e, queiramos ou não, estamos colocando para dentro de nosso ser, um sem número de informações que nos estressam e endurecem. A civilização nos impõe: É preciso não ver, não cheirar, não tocar, não sonhar, não existir como um ser completo. O ser completo não é escravo daquilo que a moda comanda, ele compra só o necessário, mas isto afeta o “progresso”, a roda do consumo não pode parar. Faz mal ao “mundo”. Somos este ser completo! Assim nascemos. Somos este ser incompleto! Assim ficamos. Trazemos em potencial esta semente de sabedoria que o viver em sociedade faz esquecer, mas é através do olhar que podemos nos integrar novamente, renascendo como seres humanos. O olhar que antecipa a escolha. A escolha que leva ao fazer. O fazer que conduz ao crescimento. Surpresos ao verem casais formados por sombras de seres díspares? Também eu fiquei e ainda me pergunto onde está esta capacidade humana de levantar os véus que vedam o mundo. Estará nesta semente que antecipa imagens, programando-as com tal velocidade que elas fogem ao controle da mente, e uma vez livres, podem interagir com estes elementos díspares citados acima e formar casais ou qualquer outra imagem. O que o olho não vê, ou que simplesmente não sabe que vê é o diferencial que transforma a arte em revelação. Educar o olhar para criar o homem novo, deixar aberto o canal que religa ser-natureza. Apaixonar-se pelos sinais e saber que o lugar para onde eles apontam é bem ali, onde o olho não vê.Ali, no miolo da flor. Leila de Sarquis "Leila de Sarquis é uma artista plástica de incrível sagacidade visual, sempre captando a beleza invisível aos olhos comuns." |
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